Não é mais novidade que Sarah J. Maas é uma autora que busca inspirações em contos e mitos para criar personagens e até universos inteiros. Afinal de contas, nós mesmos já abordamos esse assunto diversas vezes, como na correlação entre a Bela e a Fera e até a mitologia envolvendo Hades e Perséfone.
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O que ainda não é muito falado, é a inspiração em baladas e contos de fada que dominavam a Escócia séculos atrás. Como a famosa balada Tam Lin, também conhecida como Tamlane, Tamlin, Tambling, Tomli, Tam Lien, Tam-a-Line, Tam Lyn ou Tam Lane.
Como todo bom conto, existem várias versões dele circulando por aí, principalmente porque a balada foi mencionada pela primeira vez em 1549, alcançando uma fama maior em 1769. Hoje, vamos ficar com a versão mais conhecida.
O conto fala sobre uma mortal que, por acaso, acaba encontrando um homem misterioso chamado Tam Lin numa floresta proibida. Inevitavelmente, os dois se aproximam e a mocinha, que muitos chamam de Janet, acaba engravidando.
E é exatamente aqui que os acontecimentos começam a se alinhar com o universo que já conhecemos.
Ao procurar pelo amado, Janet descobre que ele é cativo de fadas e corre o risco de ser usado como sacrifício em uma forma de tributo ao inferno. Para salvá-lo de um destino cruel, a mocinha deve encontrar as fadas exatamente à meia-noite do Halloween e puxá-lo do cavalo.
Mas além de enfrentar a tropa de fadas que passará, ela também deve segura-lo enquanto ele se transforma em uma grande variedade de feras. Na versão mais antiga, os escoceses costumavam dizer que Janet tinha poderes mágicos e que foi graças a eles que a missão foi bem-sucedida.
Segundo o conto, para transformar Tam Lin em humano novamente, Janet o mergulhou em três recipientes de leite ou água mágica nos arredores de Selkirk, sudeste da Escócia. E reza a lenda que o lugar até hoje guarda vestígios da magia, visto que a grama não cresce, apesar do solo ser fértil.
Ao decorrer dos séculos, o conto se transformou em balada e também foi contado em vários livros, como “Elphin Irving, o copeiro das fadas”, em contos tradicionais do campesinato inglês e escocês de Allan Cunningham, e “Tamlane” em mais contos de fadas ingleses de Joseph Jacobs. E claro, foi passado de geração para geração em rodas de fogueira até chegarmos em versões musicais mais modernas, como nas vozes de Anais Mitchell & Jefferson Hamer e na de Sandy Denny.
E é justamente essa popularização que traz essa dose de encanto.
Como todo bom folclore que se preze, também existem aqueles escoceses que acreditam que o que aconteceu com Tam Lin e Janet é uma história real, especialmente pelo fato de que mais da metade das bruxas condenadas na Escócia em 1590 e 1697 se chamavam Janet.
Mas quem sou eu para julgar crenças?
Real ou não, Tam Lin é um conto que vem sendo amado há séculos e é inevitável que existam outras versões, cada um com sua leitura ou releitura. Em suma, é isso que significa ser um conto: uma fonte inesgotável de magia e criatividade.
E uma coisa é certa: o Tamlin que conhecemos não era nada digno da mocinha.
Imagem de capa: Song of the Isles