UMA NOTA DE BRIGID KEMMENER, AUTORA DE “OF A CURSE SO DARK AND LONELY”
Há quase dez anos atrás, eu era uma nova escritora agenciada procurando por outros autores na mesma posição. Eu encontrei uma nova autora chamada Sarah J. Maas, no Twitter por que compartilhamos a mesma agente e isto rapidamente se desenvolveu em uma amizade. Agora, quase uma década depois, nós continuamos amigas e escrevemos mais de 20 livros entre nós.
Quando eu fui chamada para entrevistar Sarah para uma adição exclusiva na edição especial de Corte de Gelo e Estrelas, a quarta história da série Corte de Espinhos e Rosas, eu estava encantada para fazer a viagem de estrada para ver minha amiga e passar a tarde relembrando de personagens antigos e novas que apareceriam. Aproveitem esta espiada sobre o que sarah estava pensando sobre e o que estava acontecendo em sua vida enquanto escrevia esta adorada série. Boa leitura!
ENTREVISTA ESTENDIDA COM SARAH J. MAAS
BK: Você escreveu o primeiro livro de Corte de Espinhos e Rosas em 2009. Você realmente o escreveu em um mês? E o que estava acontecendo naquela época de sua vida?
SJM: Bem, naquele ponto, eu tinha saído da faculdade havia um ano e eu havia assinado com Tamar, minha agente, em janeiro para Trono de Vidro. Na primavera* (entre março e junho entre o hemisfério norte) nós terminamos fazendo algumas edições juntas no livro, mas nós decidimos não mandar TOG para as editoras até ela ter retornado de sua licença maternidade. Então quando ela teve seu bebê, eu fui deixada com um monte de tempo em que eu não tinha nada acontecendo. A ideia de Espinhos e Rosas me bateu bem aleatoriamente e me consumiu inteiramente. Era uma história em que, em um buraco de dias, eu ouvi a voz de Feyre e eu vi muitas cenas na minha cabeça. Pule um mês e eu tinha escrito o primeiro livro. Eu amei tanto que pulei para escrever o segundo livro, que se tornou Corte de Névoa e Fúria…
BK: Que eu amei!
SJM: Obrigada! Mas assim que Tamar voltou da licença maternidade. Eu coloquei o projeto de volta na prateleira. Nós mandamos Trono de Vidro para as editoras e vendemos para a Bloomsbury. Depois disso, eu não me lembro exatamente as datas, mas mais ou menos na época em que Coroa da Meia Noite estava sendo lançado, eu percebi que o ritmo de publicar um livro por ano pareceu um pouco devagar para mim, então porque não vender outro? Eu já sabia que a série de Trono de Vidro seria por volta de 7 livros e isto significava que não poderia começar a escrever uma segunda série até 2019. Aquilo me pareceu um tempo muito longo sem compartilhar outras histórias!
BK: Imagine isso! Se você estivesse esperado, Espinhos e Rosas só teria saído este ano.
SJM: Não é? Então vendemos a série de ACOTAR para a Bloomsbury e o resto é história! O primeiro livro ficou mais ou menos o mesmo. Eu fiz algumas mudanças, mas nada enorme. Mas quando chegou a hora de trabalhar na sequência, resolvi reescrever do zero. Então eu comecei com um manuscrito em branco e escrevi um novo livro inteiro. E acabou tendo algumas partes algumas partes similares ao meu primeiro rascunho, mas todos estes novos personagens apareceram. Eu fui sortuda, pois os anos em que ACOTAR esteve em minha prateleira me deixou descobrir o que realmente queria para esta série.
RELEITURAS DE CONTOS DE FADAS E CRESCENT CITY
BK: “Cinderela: foi a centelha para Trono de Vidro, “Leste do Sol e Oeste da Lua” (NOTA: Conta de fadas norueguês) e “A Bela e a Fera” a de Corte de Espinhos e Rosas. Você tem planos de fazer outras releituras de contos de fadas e o que inspirou sua próxima série, Crescent City?
SJM: Eu, na verdade, tenho algumas outras releituras de contos de fadas e mitologia já escritos.
BK: Trunk Novels (NOTA: histórias escritas que não foram publicadas)
SJM: É um bom jeito de descrevê-los. Eles estão literalmente só sentados envolta no meu computador, juntando poeira. (Risadas) Então não quero estragá-los! Mas Crescent City não foi inspirado em um conto de fadas específico tão quanto em um lugar onde um monte de criaturas místicos do folclore e da mitologia existissem em um único mundo. Troca-formas e feéricos e sereias, dragões e demônios e tantos outros seres mitológicos habitando ao lado dos humanos, que são a basicamente, a base da cadeia alimentar e desenvolveram tecnologia em ordem de acompanhar as habilidades mágicas de todo mundo. Eu cresci na cidade de Nova Iorque, então escrever sobre uma área urbana tem sido realmente divertido para mim.
PRIMEIRAS HISTÓRIAS
BK: Eu sei que você começou a escrever Trono de Vidro quando tinha 16 anos, mas quando foi a primeira vez que você começou a escrever uma história?
SJM: Eu escrevo desde que sou criança. Mas o bichinho da escrita realmente me pegou quando eu tinha provavelmente 11 ou 12 anos. Meus pais tinham uma bela coleção de música clássica, e eu sempre amei ela. Uma tarde eu decidi limpar meu quarto e coloquei o álbum de Lago dos Cisnes dos meus pais para ajudar a passar o tempo. Eu nunca tinha ouvido a música antes, e depois de alguns minutos, a música me atingiu tão forte que eu acabei sentando no chão, vendo todos esses cenários fantasiosos em minha cabeça, um depois do outro. Eu fiquei maravilhada com isso. E a partir dai, eu tive que escrever. Eu queria escrever. E foi o que eu fiz, em toda oportunidade que eu tive. Quando você começou a escrever?
BK: Provavelmente na mesma época. Eu não tenho toda a história do Lago dos Cisnes, mas eu definitivamente estava no ensino fundamental quando eu comecei a escrever minhas próprias histórias, e eu escrevia à mão. Eu falo sobre isso quando visito escolas, porque eu me lembro de estar no ensino médio, e eu quero uma jovem de exatas. Então eu acho que muitas pessoas ficaram chocadas quando eu me tornei uma autora, porque até então, eu ainda gostava de matemática, ciências e essas coisas. E eu tenho essa memória vívida de estar na aula de cálculo e minha professora veio até mim e arrancou uma folha que estava embaixo do meu caderno em que eu estava escrevendo histórias e ela começou a ler para a classe!
SJM: Não!
BK: Foi horrível! Depois disso fiquei muito mais atenta a quando eu iria escrever. [risadas] Mas sim, eu sempre gostei de contar histórias – saber histórias. O desejo de saber o que aconteceu, ou o que está acontecendo, ou o que irá acontecer depois – é o motivo de eu gostar tanto de contar histórias.
SJM: Essa pesquisa acho que é o que mantém escrever ser tão empolgante para mim. Eu planejo minha história, mas também gosto de deixar meus personagens guiar o caminho. Então algumas vezes eu descubro o que acontece conforme eles me guiam para isso, e é sempre super incrível. E esse momento de descoberta, quando você descobre algo sobre um personagem, que você plantou a semente sem perceber ao longo do livro, é pelo que eu vivo. O momento que você fala para um personagem “Caramba, esse é quem você é! Esse que é o seu medo/paixão/motivação. É um sentimento incrível quando você tem um desses momentos de conexão e realização.
VIDA E ARTE
BK: Você usa experiências ou pessoas da sua própria vida? Por exemplo, tem muita dinâmica de irmãos em Corte de Espinhos e Rosas; isso foi tirado de algum lugar?
SJM: Não, eu tenho um irmão mais novo, mas eu queria ter irmãs, também! Eu deixo minha vida pessoal fora dos meus livros. A única coisa que realmente aparece é como eu me senti em determinadas situações. Quando a Feyre pinta, aquele ânimo criativo que ela entra – é como eu me sinto quando estou escrevendo. Ou os lugares que eu viajo, as cidades que eu vejo, ou as pessoas que eu encontro. Todas essas memórias e experiências vão para um cofre na minha mente, e quando estou criando coisas, essas são as coisas que eu puxo. Eu não escrevo sobre as pessoas reais da minha vida. Você escreve?
BK: Não.
SJM: Sim, eu também não, mas eu acho que às vezes as pessoas leem entrelinhas. Os membros da minha família estão sempre “Esse sou eu no seu livro?” e eu fico tipo “Não, não, não”. As pessoas ainda não acreditam que Rhys não é inspirado no Josh. A única coisa que os dois têm em comum é que eu sou sortuda o suficiente para ser casada com alguém que é meu parceiro e meu igual, que me respeita tanto quanto eu o respeito. Eu posso escrever sobre amor porque eu sei como é sentir isso, mas todas as similaridades acabam ai – e os dois serem altos e morenos. É isso. Mas ninguém acredita em mim!
BK: Se você tivesse uma carreira que não fosse escritora, o que você faria? Eu provavelmente seria ou psicóloga ou professora. Porque, de novo, eu gosto de saber o que está acontecendo.
SJM: Uma floricultura ou uma DJ. Uma floricultura que é DJ à noite. [risadas]
BK: Totalmente! Talvez a pessoa pudesse ter poderes que ela pega das flores… É assim que livros acontecem.
SJM: Realmente é – é tudo perguntas “e se?”.
BK: O primeiro livro que eu mandei para um agente era sobre um garoto que era filho de Apolo, dono de uma loja de música no centro de Baltimore. Minha inspiração para esse personagem veio de jogar Rock Band com meu marido. É a história de origem mais tediosa de todas.
SJM: Não, eu amei isso! É como as ideias começam. Nós compramos nossa casa atual no inverno passado. Nós não sabíamos como o jardim seria, mas quando a primavera chegou, eu estava muito grávida – então eu estava realmente me aninhando – e nós percebemos que os canteiros do jardim estavam ficando cheios de hera. Tinha hera literalmente em todo lugar: nos canteiros, enroladas nas árvores, subindo nas laterais da casa. Então eu entrei no modo eu-preciso-arrancar-até-o-último-galho-de-hera-antes-de-ter-esse-bebê. E eu lembro que o tempo inteiro que eu estava arrancando as heras, e tentando dar uma boa aparência para os canteiros, eu apenas entrei na cabeça da Elain. Elain é uma jardineira, e tudo o que eu fiz durante aquelas semanas virou pesquisa para o livro dela. Eu não estou nem brincando. Elain agora vai ter sonhos sobre arrancar hera e as heras entrando pela janela para estrangulá-la durante a noite, porque vou te contar, aquela hera não queria ir embora.
A MAGIA POR TRÁS DOS NOMES
BK: Qual a inspiração para alguns de seus nomes? Como por exemplo Tamlin e Feyre, você se lembra ?
SJM: O significado de Tamlin é bem óbvio: veio da lenda de “Tam Lin” mesmo. A Feyre veio de o livro de Corte de Espinhos e Rosas ser inspirado no conto de “A Bela e a Fera”, mas eu não queria simplesmente chamar ela de Bela ou Belle. Feyre é uma palavra do inglês antigo para “bela” e provavelmente foi pensado para ser pronunciado como “fair” em inglês, mas eu gostei da pronúncia “Fey-ruh”. Meu editor literalmente me fez colocar uma nota em Corte de Espinhos e Rosas para explicar a pronúncia correta. Então eu coloquei uma fala onde Nesta choraminga o nome “Feyre” e Feyre menciona que a Nesta pronuncia as duas sílabas do nome dela.
BK: Eu lembro disso! Eu estava ouvindo o audiobook, e eu sorri um pouco quando percebi o que voce tinha feito.
SJM: E o nome de Rhys… Eu não me lembro de onde eu tirei o nome do Rhys! Como isso é possível? Eu acho que o nome Rhys ou simplesmente apareceu na minha cabeça, ou achei ele no site babynames.com. Espera- O que o nome Rhys significa? Eu deveria saber.
BK: Vamos pesquisar no Google. [pega o celular]. Um segundo. Vamos ver… hummm. A wikipedia não tem nada de útil.
SJM: Espera, eu encontrei! Rhys significa “entusiasmo” [risadas]. Então eu definitivamente não escolhi o nome Rhys por causa de seu significado.
BK: Bom, de qualquer forma,ele é bastante entusiasmado!
SJM: Ele é bem entusiasmado em relação a algumas coisas. Eu devo ter visto o nome Rhys e gostei bastante, ou simplesmente veio na minha cabeça. Alguns nomes só aparecem na minha cabeça. Ou eu vejo eles em algum website de nomes de bebês, e eu penso “Certo, esse nome me parece legitimo”. Eu não tenho um processo muito científico para a escolha dos nomes. Você tem ?
BK: Não muito, quer dizer, eu também vou no site no babynames.com e dou uma olhada.
SJM: Você escolhe nomes com algum significado por trás deles ?
BK: Às vezes.
SJM: E você tenta incorporar eles para que todos tenham algum significado?
BK: Não, é meio parecido com o que você faz. Às vezes eu escolho um nome e penso “ Eu gostei desse”. No meu livro “Cursed”, tem os personagens, Harper, Rhen e Grey, e todos eles são nomes que eu gosto. Eu não escolhi por alguma razão em particular. E assim como você, para a minha personagem “bonita”, eu não queria escolher o nome “Bela” ou “Belle”, nem nada relacionado a beleza. Então eu escolhi Harper.
SJM: Às vezes eu só escuto um nome na minha cabeça, e esse é o nome do meu personagem. Você consegue escrever sem saber o nome do seu personagem?
- Não, eu preciso de um nome.
SJM: Eu preciso um nome para o meu personagem principal, mas quando tem algum personagem coadjuvante, eu às vezes só escrevo, “XX”.
BK: Oh, entendi, então eu dou um nome qualquer para eles.
SJM: Eu tenho dificuldade de escolher nomes aleatórios! Eu tenho uma lista dos nomes de todos os personagens, para usar de referência. Às vezes, se eu preciso nomear um personagem qualquer, eu pego essa lista e percebo que eu tenho muitos nomes de personagens que começam com a mesma letra, e que eu não tenho nenhum nome que começa com outra letra. Então eu invento um nome com algumas dessas letras não usadas ainda.
BK: Isso é bem inteligente.
SJM: É tão sem graça ! Mas eu preciso de um nome para os personagens principais antes de começar a escrever. É tipo uma chave para a mente deles. Assim que eu sei o nome de um personagem, eles se tornam uma pessoa real para mim. Mas quando eu não consigo pensar num nome para eles, eu literalmente só me sento fazendo listas de possíveis nomes no meu caderno até eu escolher um.
UM DIA NA VIDA
BK: Como é um dia normal de trabalho para você ? Mudou alguma coisa desde que você virou mãe ?
SJM: Meu dia normal de trabalho antes era: levantar, tomar café da manhã, e então as manhãs era para fazer coisas administrativas e de negócios, como responder emails relacionados a trabalho, escrever uma newsletter, fazer tudo que não fosse escrever meus livros. E depois do almoço, eu começava a trabalhar, e escrevia durante todo o resto do dia. Se eu tinha um prazo de entrega em vista, então as manhãs automaticamente viraram hora de escrever também. E às vezes, se eu tinha um prazo, ou estava muito concentrada na história, eu escrevia durante a noite, até sabe-se Deus que horas da manhã.
Agora que eu sou mãe, meus dias são estruturados ao redor do Taran, e suas horas de comer e dormir. Mas agora eu sinto que meu cérebro foi dividido em dois, eu tenho meu cérebro de mãe, que só quer passar o dia inteiro com o Taran, e eu tenho meu cérebro criativo. E é bem difícil trocar um pelo outro.
Quando eu estou olhando para o Taran e brincando com ele, eu não estou pensando nas minhas histórias como eu costumava fazer enquanto estava fazendo outras coisas. Agora eu estou tão obcecada e apaixonada pelo meu filho que quando eu estou brincando com ele, eu estou brincando com ele de verdade naquele momento. A parte de mim que costumava pensar constantemente nas minhas histórias, ficou um pouco mais calma agora.
Não é como se eu tivesse me tornado uma pessoa completamente diferente, é quase como se eu fosse essa casa, e eu tivesse construído uma parte enorme para a ser mãe nela – e agora essa parte se tornou o coração da casa. Eu vejo as coisas de forma diferente agora. Criativamente, eu não quero que nada de ruim aconteça com nenhum dos meus personagens . Eu literalmente penso “Sua mãe ficaria tão triste se isso acontecesse com você!”.
Eu sempre amei e respeitei a minha mãe – eu não sei explicar o tanto que eu admiro TODAS as mães – mas uma vez que você se torna uma, você realmente entende o tanto de trabalho que uma mãe tem, e o quão incrível todas as mães são. Ter um filho não é coisa pra fracos. Só pelos fluidos corporais por si só! Você não pode ser enjoada quando se tem uma criança pequena.
Atualização: Nos meses seguintes à entrevista de Sarah e Brigid, as respostas de Sarah acabaram se modificando. Desde que se tornar mãe desempenhou um papel importante na sua jornada criativa, ela quis manter sua resposta original aqui para os leitores, mas também providenciou uma resposta atualizada abaixo:
SJM: Então, eu serei honesta: quando eu falei com Brigid meses atrás, eu estava em um lindo tempo para criatividade. Me tornar mãe tem sido a melhor e mais incrível coisa que já aconteceu comigo, mas eu definitivamente lutei para achar um equilíbrio. Além disso, a exaustão e surgimento de hormônios estavam me destruindo, e sentar para escrever era como arrancar um dente. Eu não apenas passei cada segundo na minha mesa desejando que estivesse saindo com meu bebê, mas eu também descobri que lá estava, literalmente, um muro no meu cérebro e apenas um pequeno gotejar de ideias passou.
Escrever não era divertido. Era uma tarefa, e eu nunca tinha sentido isso antes – e isso me APAVOROU de verdade, e eu achei que seria assim para sempre. Eu confessei isso para Brigid fora dos registros, e ela foi incrivelmente gentil e compreensiva. Prometeu para mim que o primeiro ano após ter um bebê era difícil – não apenas como uma nova mãe, mas como escritora, mas ela me re-assegurou que eu encontraria minha fagulha e ritmo novamente.
E eu encontrei. Dei a luz em junho e tomei até os feriados de inverno antes de começar a sentir essa crescente onda de ideias, construindo e construindo dentro de mim. Eu não posso explicar porque ou como, ou oferecer tipos de ajuda para algum leitor/escritor passando por isso, mas pareceu que esse tempo( e realmente entrando na programação com Taran) foi o que meu cérebro realmente precisava.
No tempo em que comecei a trabalhar em Crescent City novamente, eu senti como um cavalo de corridas, preso em um estábulo muito pequeno – eu mal conseguia ficar parada. Foi como se eu literalmente fosse explodir caso não começasse a escrever novamente. Aquele muro que tinha feito escrever algo tão miserável desmoronou.
Eu quase chorei com alivio e felicidade de me sentir desta forma novamente. De realizar que eu poderia ser presente com meu filho, mas ainda ter a habilidade de pensar sobre personagens, histórias e mundos. De não sentir que eu era uma mãe ruim por gostar de passar horas escrevendo. De possuir a energia de fazer ambos novamente e parte do meu cérebro que estava quieto após a vinda do bebê – a parte que constantemente pensa sobre histórias- agora estava novamente transbordando de ideias.
A PARTE MAIS DIFÍCIL DE ESCREVER
BK: Qual foi a coisa mais difícil de escrever na série “ Corte de espinhos e rosas” e qual foi a mais fácil?
SJM: A mais fácil provavelmente foi o romance Feyre-Rhys, porque era só alegria e deleite do primeiro encontro deles. E a dinamica de grupo da Corte dos Sonhos – Eu amei eles!
A coisa mais difícil… Eu nem sequer sei. A série é apenas muita diversão de escrever para mim, então não há realmente algo difícil para mim. Haviam cenas que eram difíceis de escrever num nível emocional. Por exemplo: quando Tamlin tranca Feyre em casa na última vez ou quando o pai dela morre – essas foram realmente difíceis para mim. Cada vez que alguém está sofrendo, eu sofri junto com eles.
Seriamente, eu não tenho nenhum prazer em fazer meus personagens sofrerem, porque eu me sinto tão próxima deles que sua dor é minha dor. Deixe-me ver, o que mais… Oh, quando o Suriel morreu em Corte de asas e ruínas, eu chorei.
BK [ acena]: Isso foi realmente poderoso.
SJM: Eu chorei tanto!
BK: Mas eu amo como essa cena acontece. Foi tão incrível!
SJM: Total e fodidamente satisfatório.
BK: Sim! Esta pode ter sido uma das minhas cenas favoritas.
SJM: Essa cena foi feita para causar impacto, quando as coisas simplesmente fizeram sentido. Eu amei escrever sobre a Tecelã em Névoa e Furia, mas andava querendo traze-la de volta de alguma forma. Então, quando Ianthe finalmente tem o que merecia, de uma forma horrível… Eu estava muito satisfeita com o resultado.
UM OLHAR MAIS PRÓXIMO EM PRYTHIAN
BK: Eu também tenho que perguntar, porque já vi leitores perguntando sobre isso: o que a Amren é?
SJM: Okay. Então, Amren é basicamente um anjo do antigo testamento. Não um desses anjos com lindas asas brancas – as dela são mais como asas de chama furiosas. Pense nela como o Anjo da Morte. – esse tipo de anjo. Essencialmente, ela é um anjo-assassino que se cansou de fazer o trabalho sujo de Deus e se tornou curioso sobre o que havia além. Sobre o que existia nos outros mundos. Então, quando vê o rasgo no céu ela vai através dele e num seguimento de acontecimentos que eu iria amar contar um dia, acaba presa em seu corpo. Pobre Amren.
BK: Aw. Pobre Amren! Você pode nos dizer sobre os próximos livros de Corte de Espinhos e Rosas? Serão sequências ou prequels?
SJM: Eu sei o que eu quero que aconteça com vários desses personagens, mas eu também gosto de deixar a porta aberta para novas ideias. Então, alguns desses livros serão sequências, mas eu tenho uma ideia para um prequel que acontece um longo tempo antes dos eventos de Corte de Espinhos e Rosas. Porém, eu sei que o próximo livro pertence a Cassian e Nesta; e eu sei que quero escrever uma segunda novella, mas eu ainda estou mantendo a porta aberta após isso. Eu tenho tantas ideias para várias novellas e histórias que eu me mantenho num constante estado de “ Tudo bem, tudo bem! Se acalme. Mantenha-se no caminho”.
BK: Eu sempre tive um tempo dificil com questões como essa, mas qual dos seus personagens na série Corte de Espinhos e Rosas você se encontrou apaixonada?
SJM: Bem, se Rhys estiver fora do jogo, porque ele é basicamente perfeito, provavelmente Cassian. Ele é super frio, mas também é bom em não aguentar besteiras.
BK: Cassian é um tipo de Dudebro. Ele me lembra dos caras do Crossfit que são tipo, “ Heeeey.”
SJM [ rindo]: Isso é verdade. Se estivéssemos num bar – se eu estivesse retratando todos eles num bar- Rhys seria aquele que eu imediatamente olharia e pensaria que não tem chance dela olhar duas vezes para mim. Estaria super intimidada por como ele é atraente. Então, eu iria ver Cassian bebendo de pernas para o ar – ainda há alguém hoje em dia que faça isso? Acho que isso provou o quão pouco eu saio! – mas Cassian seria aquele de quem eu me aproximava. Aquele sorriso de quem poderia me enrolar bem ali. E eu olharia para Azriel e estaria com “ Ah, nossa, ele é tão quente, mas eu estou meio que com medo dele.”
BK: Azriel é o cara que eu estaria: “ Ele é aterrorizante, me deixe tentar com ele!”
SJM [ rindo]: Melhor entrevista de todas.
MAIS A RESPEITO DE “CORTE DE GELO E ESTRELAS”
BK: Eu estava curiosa a respeito da inspiração por trás de Corte de gelo e estrelas. Pareceu como uma pausa entre histórias, algo que eu gostei muito.
SJM: [concorda com a cabeça]: Comecei a escrever Gelo e estrelas quando estava escrevendo Asas e Ruína, como um vislumbre de como esses personagens estariam após o fim da guerra. Queria que Gelo e Estrelas fosse como aqueles especiais de Natal que passam na TV – como na série Downton Abbey – em que não é um livro completo, mas coisas que são vitais para a história acontecer. Gelo e estrelas acabou sendo tecnicamente longo demais para ser considerado um conto, mas definitivamente não é um livro completo. Não tem um grande arco, mas sim um degrau entre a trilogia original e os próximos livros spin off, e menciona algumas coisas que serão vitais mais tarde.
Mas principalmente, escrevi Gelo e Estrelas porque amo demais esses personagens. Queria continuar escrevendo sobre eles, e queria vê-los passando aquele primeiro feriado após a guerra. Amo a atmosfera que existe nas festividades de inverno, quando a neve está caindo e você se aconchega com uma xícara de chocolate quente e lê um livro. Então queria escrever algo que parecesse o tipo de livro perfeito para ler aconchegada no sofá sem se preocupar que alguém vá ser assassinado ou que o mundo vai acabar. Foi uma delícia para mim, escrever.
CORAÇÕES PARTIDOS E CURA
BK: Quando você começou a escrever Espinhos e Rosas – e sei que faz quase dez anos desde então – Feyre está super apaixonada pelo Tamlin. Olhando para trás agora, você acha que esse amor pelo Tamlin foi genuíno?
SJM: Eu sempre soube que queria que a Feyre terminasse com o Rhys, que a história deles era a que ia prevalecer no final. Mas com Tamlin, eu sabia que precisava fazer o romance deles parecer crível no primeiro livro. Ela tinha que se apaixonar por ele, e sem ver os indícios de que tinha algo errado. Afinal de contas, era a primeira vez na vida que ela havia se apaixonado e que alguém estava cuidando dela. Feyre sempre precisou tomar conta de todo mundo – suas irmãs, seu pai – e estar subitamente em um lugar de luxo, onde ela agora não é a cuidadora mas a pessoa que está recebendo os cuidados… Essa é uma situação, pelo menos para mim, onde imagino que seja fácil para alguém se apaixonar por Tamlin. Afinal de contas, ele foi o primeiro que priorizou ela.
Mas também sabia que o que acontecesse Sob a Montanha à Feyre e ao Tamlin realmente a quebraria – e quebraria ambos. Prythian não é nosso mundo moderno. Eles não tem terapia. Eles tem magia, mas não possuem alguns dos recursos que temos nesse mundo, ou sequer o vocabulário para falar sobre trauma e transtorno pós traumático como nós conseguimos falar.
BK: Foi importante para você representar condições mentais, depressão, e transtorno pós traumático em seus personagens?
SJM: Com certeza. Todos os meus personagens são humanos. Bem, ok, são feéricos! Mas espero que os leitores consigam se enxergar refletidos em suas histórias.
Nunca quis que a Feyre, o Rhys, ou até mesmo o Tamlin tivessem seu sofrimento jogado para debaixo do tapete. Que ficassem magicamente felizes de novo, porque não é assim que funciona. Talvez algumas pessoas consigam simplesmente seguir em frente, mas para muitas pessoas, inclusive para mim mesma, esses traumas às vezes permanecem e precisam ser enfrentados e curados.
Em Névoa e Fúria, Tamlin não o faz, e isso o destroi – e quase destroi Feyre, também. Mas a jornada dela saindo daquele lugar de desespero e escuridão até um lugar de amor e vida foi uma das minhas favoritas, de todas que já escrevi. Eu sangrei naquele livro.
Amo cada livro que escrevi, mas Névoa e Fúria tem um lugar muito especial no meu coração precisamente por conta da jornada da Feyre. E do Rhys, também. Ambos estão travando uma batalha contra o trauma, desespero, ansiedade e uma culpa enorme. E sair daquele lugar de escuridão e aprender que eles são dignos de serem amados e aceitarem amor é muito importante pra mim.
BK: Foi um romance que ambos mereceram, acredito, porque eles realmente passaram por essa jornada.
SJM: Sim. E porque eu sabia desde cedo que eles iam terminar juntos, consegui plantar algumas sementes para isso em Espinhos e Rosas. Sou uma grande fã de dar pistas do que vai acontecer! Mas realmente queria que a jornada romance da Feyre e do Rhys fosse longa – amo romances lentos, que vão esquentando aos poucos, tanto como leitora quanto como escritora. E embora não necessariamente chame a relação deles de lenta porque já havia uma certa atração ali desde o momento que se conheceram-
BK: Com certeza tinha alguma coisa esquentando ali!
SJM: [risos] Havia definitivamente algo esquentando, mas a Feyre não reconhecia isso sempre. Mas, ai, cara – o romance deles foi uma das minhas favoritas que já escrevi na vida.
E a própria Feyre sempre vai ser uma das minhas heroínas favoritas – não somente pelo romance com o Rhys, mas pelo tanto que ela cresce ao longo desses livros, e o que ela sofre e supera, tanto em uma escala épica quanto emociona.
Queria que a história dela fosse uma que no final, fosse resumida à esperança, onde ela aprende que está tudo bem não se sentir bem. Tudo bem sentir que as coisas estão sem vida, mas também é importante saber que você precisa se levantar – arranjar um jeito de se levantar.
Não consigo colocar em palavras o quanto é importante pra mim ouvir leitores me falarem que estavam em um relacionamento abusivo e ler Névoa e Fúria os ajudou a deixar seus parceiros. Ou que eles viram suas próprias lutas com transtorno pós traumático refletidas no livro, e isso os ajudou.
A força incrível desses leitores constantemente me inspira e me surpreende. Acredito demais em esperança, e que as coisas vão melhorar, então é uma honra que qualquer um dos meus livros tenha sido uma parte da jornada emocional de alguém.