Imagem em Destaque: Amren. Arte por : Morgana0anagrom
Amren se tornou uma personagem queridinha e desde o inicio de Corte de Nevoa e Fúria ela é, possivelmente, a personagem mais misteriosa de toda a série. Amren não é feérica, ela é algo mais antigo, poderoso e vindo de outro lugar. Assim como Stryga (a tecelã(, Bryaxis e o Entalhador de ossos. Toda a questão vem do fato que ela conta sua história, em vários momentos ela conta pedaços diferentes de um passado há milênios de distância, mas mesmo assim o que ela é e de onde vem segue sendo um mistério.
E é disso que se trata essa teoria. De onde Amren vem e o que ela é?
A base da teoria é: Amren vem do nosso mundo, da nossa dimensão, ou de algo próximo o suficiente. Ela é um anjo do senhor, um serafim, de acordo a cultura judaico-cristã. Não, eu não estou enlouquecendo. Não é apenas uma cena que nos conduz a isso. Praticamente todos os detalhes e informações que a Amren dá sobre si mesma, sobre o passado dela e sua verdadeira natureza nos conduz por esse caminho.
Vamos analisar cada uma dessas referências e compará-las a fontes bíblicas, do Torá e de estudos da teologia e angeologia judaico-cristã.
Nem todas as menções ao passado dela serão feitas de maneira linear, mas vamos começar pelo momento onde você pode começar a suspeitar da origem da Amren. Depois de Amren e Feyre voltarem da corte Estival Rhysand pede para Feyre abrir o livro dos sopros, mas logo a dificuldade é encontrada com o idioma. Ninguém o entende, exceto Amren.
Rhysand falou:
— Ouvi uma lenda que diz que ele foi escrito em uma língua de seres poderosos que temiam o poder do Caldeirão e fizeram o Livro para combatê-lo. Seres poderosos que estavam aqui… e depois sumiram.“” show_quote_icon=”yes” background_color=”#930000″ quote_icon_color=”#161616″]
O idioma utilizado, o nome utilizado, é a primeira coisa que chama atenção. A Sarah poderia ter utilizado um nome inventado ou tantos outros mais genéricos que foram utilizados por diversas culturas, ou até simplesmente não dar um nome a aquele idioma. Todavia, ela escolheu este, então vamos explicar um pouco do peso dele na cultura judaica.
O Leshon Hakodesh não é nada mais, nada menos, do que o idioma original do povo hebraico. O Hebreu puro, que foi abandonado pelo próprio povo em detrimento do Aramaico, por ser o idioma universal daquela região. O Torá foi escrito nesse idioma e é descrito que foi nele que Deus, e seus anjos, se comunicavam com o povo. Foi neste idioma que os dez mandamentos foram passados e escritos em pedra, e nele que futuramente foi escrito o Torá inteiro.
De acordo com as crenças, o mundo inteiro fala um único idioma. Este. Graças a essa facilidade de comunicação ocorreu uma grande globalização e assim uma grande cidade se tornou uma metrópole. Babel. Eles criaram uma torre gigantesca com a intenção de alcançar os céus e os anjos, então Deus foi e confundiu os idiomas. Novos dialetos surgiram, mas o povo Hebreu seguiu por um bom tempo usando o Leshon Hakodesh e seus escritos antigos seguiram-se nele. Todas as menções de comunicação divina com o plano terreno são descritas nesse idioma.
Ele é o máximo sagrado dos Judeus e do povo Hebreu. É popularmente conhecido como “A língua sagrada”, como a própria Amren diz, ou “A lingua dos anjos”. O idioma original, o atual, tem várias influências de outros dialetos regionais, tem um peso grande pra esse povo. Eles acreditam que a palavra lançada não pode ser retornada pelo impacto espiritual e de poder no universo. As palavras nesse idioma criaram e mantém o mundo. Ele é sagrado.
Seguindo na teoria, Rhysand diz que o livro foi escrito no idioma de seres poderosos que costumavam estar ali, que temiam o caldeirão. Eles criaram o livro, seus feitiços e encantamentos, na intenção de neutralizá-lo. Logo em seguida, ele diz:
Nós sabemos que, de fato, Amren sabia ler o livro e que ele continha de fato segredos que auxiliaram ela a se libertar e conduzir o caldeirão na batalha final. Todavia, sabemos também que ela não foi embora. Voltaremos a essa informação também, mais a frente.
Amren conta um pouco sobre como foi parar no Mundo de Prythian. E lá tem mais pistas sobre sua origem.
Me aprisionei neste corpo. Enterrei minha graciosidade incandescente bem no fundo.”” show_quote_icon=”yes” background_color=”#930000″ quote_icon_color=”#000000″]
Sabemos que os anjos não são autorizados e nem foram criados para terem vontade própria. Eles obedecem, adoram e servem a Deus. Amren cita que algo ocorreu com os do tipo dela que tinham aprendido a se colocar em primeiro plano e a ter sentimentos… O que nos leva a revolução de Lúcifer e a queda dos anjos.
Não nos é dito muito, nos textos, sobre como foi dada a queda. O que temos é que Lúcifer quis se assentar num plano maior que ao de Deus e que 1/3 dos anjos caíram com ele por conta disso.
Isaías 14:12-15
Apocalipse 12:3-9
Amren não estava dentre esses anjos que caíram, mas isso mostrava que eles não eram obrigatoriamente alienados. Aqueles seres podiam ser diferentes e pensar diferente entre si. Podiam sentir, mesmo que numa escala diferente. Ela viu o que aconteceu com eles e se inclinou para dentro de si mesma, contendo seus impulsos e curiosidades. Não completamente, mas em seu âmago aquela curiosidade ainda existia.
E ela faz um curioso uso de palavras quando fala sobre sair de seu corpo, que ela descreve como sendo superior aos dos feéricos como de um imortal a um mortal.
Ela pode estar se referindo a cair de qualidade de poder, mas é pouco provável considerando o quão poderosa Amren é mesmo na forma feérica. E todo o discurso dela neste dia foi brutalmente sincero… É curioso que na cultura judaica um anjo cair do céu para a humanidade é utilizado o termo “Cair”, ou seja, o mesmo termo que Amren hesitou antes de usar para definir sua mudança para feérica.
Agora, vamos para o episódio da cidade. Amren relata que destruíram duas cidades e destruíram a planície onde ela se assentava. Foi nesse dia que a fenda no céu se abriu, ela relata que seus irmãos fugiram, mas a curiosidade a impeliu a passar pela fenda.
Gênesis 19:24,25
Na versão Brasileira do terceiro livro, Amren diz apenas ” Duas cidades”, mas na versão original do livro, lançada em inglês, a fala é um pouco diferente.
No original, o termo ” Duas cidades” é na verdade ” Cidades gêmeas” ou ” Cidades geminadas”. Sodoma e Gomorra são descritas como cidades irmãs durante toda a história. É incerto sobre seus governantes, exceto pelos seus nomes, mas há aqueles que acreditam que eram parentes próximos. Todavia, o parentesco dos Reis não é confirmado.
É curioso lembrarmos que haviam anjos mensageiros em Sodoma e Gomorra no dia da destruição dessas cidades. Dois anjos tinham ido até a casa de Ló, estado com ele, e então avisado ao homem que Sodoma e Gomorra estavam para ser destruídas. Eles disseram a Ló para ir para uma das cidades vizinhas( Eram cinco cidades naquela área, todas regidas por Sodoma e Gomorra), Zoar.
Quanto a destruição e a incineração das cidades gêmeas, que Amren atribuiu a ela e aos irmãos… O texto bíblico diz que Deus “Fez chover” sobre as cidades. Os anjos mais próximos de Deus eram os anjos de fogo, os Serafins. Eram também anjos muito próximos a Deus.
Amren diz que servia um Deus vingativo, como é referido mesmo dentro da Bíblia, mas não de maneira pejorativa e sim justa de acordo aos preceitos do próprio povo. Ela descreve aquele mundo como um mundo jovem, o que de fato era, se considerarmos que ele tinha poucos milhares de anos, de acordo com o calendário Bíblico. E Amren já estava em Prythian a um período inexato, mas que Feyre se refere como dez ou quinze mil anos.
Pouco tempo depois dessa história de Amren ocorre o aquele ataque dos Príncipes de Hybern a Velaris. Temos, mais uma vez, uma passagem curiosa que faz referência bíblica, dessa vez um pouco mais obvia, mas que iremos aprofundá-la um pouco mais.
— Tem um preferido?
Amren ergueu o queixo ensanguentado, e, então, limpou-o com um guardanapo quando percebeu que tinha feito sujeira.
— Cordeiro sempre foi meu preferido. “” show_quote_icon=”yes” background_color=”#930000″ quote_icon_color=”#000000″]
Imagem: Amren por SnCinder
O carneiro e a ovelha são da mesma espécie, apenas macho e fêmea, e o que chamamos de cordeiro é um animal dessa espécie jovem. Ambos, Carneiro e cordeiro, eram usados como Holocausto religioso no antigo testamento. O carneiro com maior frequência.
Sabemos que a Amren se alimenta de sangue. O favorito dela é o cordeiro. No antigo testamento, o holocausto era realizado de maneira simples. Eles derramavam o sangue do animal na pedra cerimonial e consumiam em chamas todo o resto. Não era uma forma de alimentar o divino, mas sim de remissão de pecados.
Também eram usados como holocaustos em feriados importantes, como a páscoa.
Todavia, é curioso que não saibamos absolutamente nada sobre fisiologia ou biologia angelica, então a autora teve liberdade para inventar e criar em Amren o que fosse conveniente. Considerando que Amren os descreve como muito mais imortais do que os feéricos, não parece uma criatura que a inanição vá mata-lo, mas muito do antigo poder e existência dela continuou no corpo novo. Contido, mas ali, presente. É uma incrível referencia aos holocaustos o fato desses animais terem sido citados.
E temos o próprio ato de pintar as ombreiras com sangue e deixar aquele cálice para Amren.
Êxodo 12:5-7
Êxodo 12:12,13
Não há muito o que explicar quanto a essa cena e a sua correspondente bíblica. Com essa referência alguns poderiam interpretar que Amren era, a sua maneira, um tipo de Deusa, mas ela mesma disse que servia a um Deus. Ela era um soldado, apenas. Todavia, mesmo nessas informações que ela vinha dando, muito era contido. Censurado. O momento no qual Amren falou mais abertamente foi quando achou que nunca mais veria ninguém na corte dos sonhos e Varian.
Até então ela só dissera que servia um Deus vingativo, se referira antes como comandante também, mas nesse momento “final” Amren chamou por Pai, curiosamente também usando o maiúsculo para o título. Esse título maiúsculo em Pai é comumente usado na Bíblia, tanto para Deus quanto para Pai ou qualquer pronome que se refira a Ele. Ela já se referira aos outros como irmãos e irmãs, mas agora ela se refere a aquele Deus vingativo como Pai. Amren traz, nesse instante, um tanto de reverencia ao falar dele, assim como a reflexão sobre ele ter lhe dado um presente apesar de sua desobediência. Apesar de ser diferente. Por ela ser diferente.
E devemos lembrar que a Bíblia, e o Torá, não retratam o Deus deste mundo como apenas vingativo, como vimos acima dele no Egito, mas também como um Deus misericordioso. Amren era diferente, mas escolheu ficar e fingir que não era. Então, ele lhe deu uma chance. Um presente.
E temos outra informação também. O mundo da qual Amren vem tem humanos. Sabemos, pelo que Sarah mostra em Trono de Vidro, que existem diversos mundos e vários deles não tem humanos. Então, já é uma aproximação maior na teoria.
Feyre não dá muitas descrições físicas como o estado do corpo de Amren, mas ela vê asas e uma criatura incandescente com brasas. Não descreve bem as asas ou o que o fogo e a luz contém, mas temos referencias bíblicas para anjos ligados a fogo e brasas na bíblia.
Isaías 6:6
Imagem: Amren em ACOWAR por Charlie Bowater (para o Livro de Colorir de ACOTAR)
A palavra serafim foi traduzida de várias maneiras: “serpente ardente” ou “áspide ardente voadora” enquanto que outros tradutores optam por “seres exaltados ou nobres”. Eles eram anjos de fogo, os mais próximos de Deus, mas ainda seus filhos. Irmãos e irmãs dos outros anjos. Feitos de maneira diferente da dos humanos. Não para sentir, questionar ou ser mais… Apenas para servir, adorar e obedecer a Deus.
Mas isso não aconteceu sempre, como vemos em vários momentos dessa teoria.
E, é bom lembrar, as benções concedidas por Deus são sempre retratadas como presentes. Coisas não merecidas que recebemos mesmo assim. Amren não era como os outros, outros que foram punidos, ou seriam ( em outras partes da bíblia é dito que os anjos que caíram com Lucifer seriam destruídos, eventualmente). Ela ficou. Isso pode tê-la feito merecedora, mas ela não parece acreditar nisso. Achava que era um castigo, mas chegou a conclusão que fora um presente.
E assim terminamos essa teoria com uma ultima explicação. Quando essas questões foram discutidas por mim com outras fãs de Corte de espinhos e rosas muitas tiveram muita resistência em concordar comigo, mesmo que eu tivesse encontrado referencias em todos os momentos que fazem alusão a verdadeira natureza de Amren. E mesmo quando concordavam ficou uma pergunta… Porque Sarah J. Maas não revelou este fato nos livros? Se ela tinha uma inspiração solida para Amren, porque ela não a colocou lá?
E, até onde sei, não mencionou, até então, nenhuma vez a real origem da personagem.
É até simples.
A obra toda é um High-fantasy com muitas camadas, mas quase nada de questão religiosa. No mundo de Prythian não há deuses de fato, mesmo a crença no caldeirão e na mãe é distante. E, além de tudo, é um romance erótico. Por muito menos do que vemos nos livros, histórias já foram atacadas por religiões. Além de que, colocar abertamente um anjo do senhor na história implica ter que colocar uma questão de bem ou mal, luz ou trevas, anjos ou demônios… Essa questão não existe em Prythian. Todos são complexos e o grande vilão é a ganância, a crueldade e a superioridade.
A própria obra começou, originalmente, inspirada em “Bela e a Fera”. Não há um vilão nessa história, além do interior dos próprios personagens.
Colocar uma crença, uma religião, ter que abordar isso… Seria problemático. Causaria problemas a Sarah e a história que não tem necessidade, completamente desnecessário. Então, faria sentido se a Sarah jamais revelasse a origem da Amren, nos deixando apenas com essas referencias para fazer a ligação. Sempre apenas um rumor para aqueles que querem a origem, mas sem ter um problema aberto com crenças, povos e religiões. Ou com aqueles que preferem se relacionar a uma obra sem nenhum vinculo com religiões reais.
Um anjo do senhor que era temido como uma história de terror, que se envolve com um homem e bebe sangue poderia ofender alguns. Assim como ter um anjo como a criatura mais poderosa poderia ofender a outros. Colocar ali, mas não dar a confirmação…
Eu achei genial, vocês não? Minha crença nessa teoria é intensa. E vocês? Convenci o suficiente com a minha interpretação desta personagem icônica com qual fomos presenteados? Espero que ao menos tenha dado no que pensar!