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Discussão: Feyre Archeron e a desvalorização materna

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Quebradora da Maldição, Defensora do Arco-íris, Abençoada pelo Caldeirão, primeira Grã-Senhora de Prythian, Mãe. Feyre Archeron é sem sombra de dúvidas a personagem feminina favorita de grande parte do fandom de ACOTAR, mas desde o lançamento de Corte de Chamas Prateadas uma questão ficou no ar: por que a maternidade de Feyre incomoda tanto?

O texto abaixo contem spoilers de todos os livros de ACOTAR.

Arte por @axisnebular

“Feyre ficou chata”, “Ela é muito jovem para ser mãe”, “Nem aprendeu a controlar os próprios poderes direito e agora virou dona de casa”, “Sarah acha que só existe felicidade se um casal tiver filhos”, “Não gosto de livros com gravidez porque bebês mudam a dinâmica do casal”, “Mas bebês feéricos não eram raros? Feysand engravidar tão rápido é força do protagonismo”. Esses são alguns exemplos de opiniões que pessoalmente já me deparei quando o assunto é o nascimento do Nyx em ACOSF.

Algumas pessoas talvez possam imaginar que isso é coisa vinda de hater da Feyre, mas na verdade não. Existe uma parcela dos fãs da nossa Grã-Senhora que genuinamente não gostou do plot de gravidez ter sido inserido tão rápido na vida de Feysand. Entre os desgostosos, existem aqueles que se sentiram roubados de vivenciar esse momento pela perspectiva da Feyre, porque a Sarah, para o bem ou para o mal, acabou usando essa gravidez como recurso narrativo na jornada da Nestha. Já outros julgam que Feyre era jovem demais para escolher ser mãe. Mas afinal, faz sentido para a personagem ter escolhido a maternidade tão cedo?

Arte por @jessdraw.s

Feyre se tornou responsável pela sobrevivência da família quando era pouco mais que uma criança. E lá no primeiro livro vemos que seu maior desejo era poder viver uma vida tranquila onde pudesse pintar quando desejasse. Ela é naturalmente protetora e maternal, e seu relacionamento disfuncional não só com as irmãs, mas especialmente com a falecida mãe, a moldou como alguém que toma pra si cargas de obrigações que não são suas, de maneira automática. Então, seria de se imaginar que depois de encontrar sua família e amor na Corte Noturna,
se tornar uma governante aos 21 anos, Feyre não iria adicionar a maternidade a essa bagagem. Certo? Ao meu ver a resposta é: errado.

Diferente de precisar caçar pra alimentar os familiares, Feyre fez uma ESCOLHA consciente de tentar engravidar. Tanto ela quanto Rhys tem históricos tristes de negligência parental e perdas devastadoras. Se por um lado, Feyre nunca teve uma família amorosa e saudável; Rhys tinha, mas perdeu de modo violento. Sendo assim, no percurso da evolução de ambos, um filho acaba sendo um passo natural dentro da relação.

Feyre não deixou de lados seus poderes nem suas obrigações enquanto Grã-Senhora, ela segue aprendendo a cuidar da Corte Noturna. E embora tenha treinamento em combate, o papel político dela não é ser uma guerreira (assim como não é o do Rhys). A Feyre heroína não ficou esquecida, ela simplesmente não está sendo necessária no momento em que se encontra a história. Eles lutaram por paz e agora estão vivenciando-a.

Arte por @madschofield

Assim como na vida real, a maternidade irá fazer sentido para algumas mulheres e para outras não. Mas assim como na vida real uma mulher será julgada quando deixar de corresponder às expectativas externas. Em literatura fantástica é sempre esperado e cobrado que as personagens femininas sejam: fisicamente fortes, moralmente capazes de violência extrema, que não demostrem fragilidade e por fim que rejeitem, se possível, toda a sua feminilidade. Porque perfomance de feminilidade padrão é vista como fraqueza. E nada mais intrinsecamente feminino do que ser mãe.

Quem lembra de James Cameron, diretor de sucessos como Avatar, Titanic e Exterminador do Futuro, falando sobre Mulher-Maravilha não ser uma boa representação de uma heroína? “Ela é um ícone objetificado, é somente a Hollywood machista fazendo as mesmas velhas coisas de sempre. Não estou dizendo que não gostei do filme mas, para mim, é um passo para trás. Sarah Connor não era um ícone da beleza. Era forte, problemática, uma mãe terrível, e ela conquistou o respeito do público através da pura determinação. Para mim é óbvio. Quero dizer, metade do público é feminino!”, disse Cameron. Ou seja, para serem grandes heroínas, as personagens precisam se parecer com homens (ou aquilo que comumente é associado a masculinidade).

Quando nos tornamos mães nossa identidade cessa de existir, dificilmente somos vistas como seres independentes da maternidade. Molly Weasley, de Harry Potter, mãe em tempo integral de sete filhos, surpreendeu a todos ao dar cabo num duelo da bruxa das trevas mais poderosa já vista, Bellatrix Lestrange. Mesmo que Molly fosse uma bruxa puro sangue vinda de uma família poderosa, ser mãe era tudo que a definia até aquele duelo.

É sintomático de um pensamento extremamente machista que estejamos dizendo que Feyre “agora é só uma dona de casa” porque escolheu ser mãe. Nada na narrativa indica que ela tenha negligenciado nenhuma de suas funções na Corte Noturna, e no momento que for necessário ela irá à luta com unhas e dentes. Uma mulher que escolhe morrer tentando salvar o filho não pode ser chamada de fraca, força não é apenas derrubar exércitos. Feyre segue sendo a mesma, só que agora também é mãe

Mas é inegavelmente irônico que uma personagem tão admirada pelos obstáculos que superou agora seja julgada por escolher viver uma vida tranquila sem que precise salvar o mundo e a todos a sua volta. Não é isso que ela merece? Paz?

E vocês, o que acharam do nascimento do baby Nyx? Muito cedo ou era exatamente o momento ideal?

 

Arte de capa por @BxRomance

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10 COMENTÁRIOS

    • Amo um bebê na história, mas não gosto de ter sido tão mal narrado e usado de desfecho para o livro de Nestha. Sarah já tinha em mente abrir o multiverso de seus livros, então eu não acho que nyx não deveria nascer ou que Feyre não deveria ser mãe. Apenas acho que isso é perigoso uma guerra está vindo e é claro feysand não tinham ideia que uma guerra estava chegando, mas sinceramente que Sarah de juízo ao nosso casal, e que eles não sejam imprudentes em pensar só em si mesmos, agora eles tem um filho, uma vida! E eu não quero nyx órfão nos próximos livros, e sinceramente eu gostaria de ver feyre grávida em um futuro próximo e seguro e podendo ver isso de perto não só em citações.

  1. Adorei 👏 tudo Feyre precisava sim ser mãe a maternidade não tirou dela a guerreira que é adorei o que Sarah J fez esse fandon é um saco.

  2. O que eu mais esperei foi esse neném lindo, era o q faltava pra todos se unirem e se curarem , tô muito feliz lendo corte de chamas prateadas 🥹, como amo essa saga, me ensinou muito 🫶

  3. O que esse povo sem noção não botou no lápis foi que a Feyre teve que amadurecer mais cedo do que deveria, passou por muita coisa pra chegar onde está, pra conquistar o que ela tem hoje, nada pra ela foi fácil, de mão beijada e muito menos sem esforço.
    Ela comeu literalmente o pão que o diabo amassou, se feriu de formas inimagináveis, nem estou falando fisicamente e quem leu sabe disso.
    Ela lutou, se agarrou ao fio de esperança invisível e sobreviveu, ganhou, mas também perdeu.
    Tudo o que ela vive atualmente no livro da Nestha foi conquistado com muita determinação, força de vontade, coragem, e ela não fez nada do que fez pensando apenas nela, muito pelo contrário se ela precisasse dar sua vida por Prythian teria feito isso, mesmo que isso significasse não viver o amor da vida dela com o Rhysand, com a família que ela adquiriu e com as irmãs, que mesmo não dando a mínima pra ela, manteve por perto.
    A Feyre é uma guerreira incrível, é uma Grã-Senhora e esposa espetacular, uma amiga fiel, e com toda certeza do mundo, uma mãe maravilhosa.
    E quem discorda leu errado.

  4. Essa matéria ficou INCRÍVEL! Estou sem palavras para descrever o quanto esse texto está bem escrito e como o tema foi extremamente bem desenvolvido!
    NOTA 1.000

  5. Que texto perfeito!!! Nossa, você foi cirúrgica nessas observações, pq essas críticas trazem tanto de um julgamento sobre o corpo da mulher, sobre como a personagem deveria se comportar etc. Minha única crítica a essa gravidez foi não ter acompanhado ela mais de perto, pela visão da própria Feyre e do Rhys.

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