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Correlação entre a estória de ACOTAR e os contos mitológicos de Hades e Perséfone

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É de conhecimento geral que ler as obras de SJM não é apenas uma leitura deliciosa, mas também um tremendo baque cultural e histórico. Somos sempre bombardeados por referências, referências estas que nos conduzem, motivados pela curiosidade, a pesquisar mais profundamente sobre tais inspirações. Temos nomes, mitos por detrás de criaturas e referências a contos mundialmente conhecidos.

E que delicioso é quando encontramos referências a algo que já conhecíamos previamente!

Essa em especial foi uma a qual a maioria dos fãs pegou no ato.

Hades e Perséfone.

Um dos mitos gregos mais aclamados, para ser sincera. Está na lista dos favoritos da maioria, ainda que não seja o favorito de alguns e sempre considerado problemático por estes que não tem agrado pela história.

 

Mas a questão é: Quem não pensou em Hades e Perséfone quando Rhys propõe a Feyre aquela barganha para salvá-la, pedindo uma semana a cada mês na Corte Noturna? Muitas das metáforas que envolvem a corte podem ter haver com o mito também. Vamos lembrar dele e compará-lo a esta obra magnífica que nos prendeu a autora tal qual um laço de parceria? Não sei vocês, mas eu me considero uma parceira platônica de SJM.

 

Comecemos pelo princípio, então? Depois iremos a comparações mais secundárias sobre o nosso Grão-senhor sombrio e o Deus do mundo inferior, assim como suas respectivas parceiras.

 

O mito de Hades e Perséfone, ou Plutão e Proserphina, consiste em:

“Hades, Rei do Submundo, certo dia saiu pela terra. Alguns mitos dizem que já foi premeditado, um plano entre ele e Zeus, para sequestrar Perséfone; outros dizem que Afrodite e Cupido tiveram sua parte nisso, flechando o Deus sombrio com uma das flechas do Cupido e isso resultou na paixão ensandecida de Hades por Perséfone. A questão onde todos os mitos concordam é: houve um rapto naquele dia. Persefóne, a jovem filha de Deméter e Zeus, deusa da primavera, foi retirada de seu momento de lazer num campo e levada para o Submundo para se tornar Rainha.”

Sobre Perséfone temos diversos outros mitos que contam como ela já era requisitada por outros pretendentes antes de Hades, dentre eles Apolo e Hermes, e após Hades vemos investidas do próprio pai da Deusa, Zeus. Ela era descrita como de incrível beleza e com uma influência forte no sexo oposto. Havia, portanto, protecionismo por parte da mãe, Deméter, sobre a filha.

 

Deméter procurou Perséfone pela terra dia e noite durante um longo tempo. Alguns mitos não definem tempo, outros dizem que foram dez dias, outros que foi bem menos. Eventualmente, alguém deu uma dica para Deméter.

 

Em algumas versões, foi Hécate, deusa da magia, quem ajudou a deusa infeliz. Na maioria dos mitos, porém, é a ninfa Ciana quem deu a dica para Demeter. Alguns dizem que ela foi diretamente até o reino dos mortos, outros que ela foi até Zeus pedir que este intercedesse, alguns ainda alegam que Hermes foi o intermediário… A maioria dos mitos, porém, não divergem em um único ponto.

 

Perséfone não poderia ser devolvida. Ela era esposa de Hades agora e provara do fruto do mundo dos mortos, a romã ou suas sementes ( variando de acordo ao mito), e agora era a Rainha do mundo inferior. A reação da Deusa da primavera diverge de mito para mito também. Alguns dizem que ela estava feliz com a posição que ostentava, pois agora era Rainha, apenas saudosa pela mãe e preocupada com a relação entre o marido e a progenitora.

 

Outros dizem que ela estava profundamente infeliz no Reino de Hades, e foi isso que permitiu que o Deus finalizasse a barganha feita com Deméter.

 

Perséfone passaria parte do ano com a mãe na terra e outra parte no mundo inferior com o marido. Em algumas versões, eram seis meses para cada, e em outras ela passava apenas o período do inverno no mundo inferior.

 

A maioria dos mitos concordam em algo: eventualmente, seja logo ou apenas muito depois, Perséfone passou a ostentar seu posto como Rainha com orgulho e tudo que o cargo pedia. Fato este que Deméter jamais entendeu, pois o mundo inferior era sombrio e possuía apenas a morte como companhia.”

 

Não é muito difícil fazer as ligações básicas, não? Feyre representava, no primeiro livro, a amada da primavera e se encontra no dilema entre a corte das flores e aquela descrita como o lar dos pesadelos. Ela faz um acordo com Rhysand para que ele lhe cure, sendo assim, refém de passar parte do mês com ele.

“— Faço um acordo com você — disse Rhysand casualmente, e apoiou meu braço com cuidado. Quando o braço tocou o chão, fechei os olhos para me preparar contra aquela corrente de raios envenenados. — Curo seu braço em troca de você. Durante duas semanas todo mês, duas semanas de minha escolha, viverá comigo na Corte Noturna. Começando depois dessa confusa barganha das três tarefas. ” Eventualmente, o acordo foi resumido a uma semana por mês no meio da barganha e discussão de Feyre e Rhysand. O acordo veio antes do rapto, mas nós o encontramos no segundo volume da série. “Ele me levaria para a Corte Noturna, o lugar que supostamente servira de inspiração para Amarantha construir Sob a Montanha, cheio de devassidão e tortura e morte…” — Tamlin, por favor. — Quanto drama — disse Rhysand, me puxando para perto. Mas Tamlin não se moveu… e aquelas garras foram completamente substituídas por pele macia. Ele fixou o olhar em Rhys, e seus lábios se retraíram em um grunhido.”

Feyre achava que a Corte Noturna era a devassidão de Prythian, aonde todas as histórias de terror e morte que ouvira enquanto humana tinham nascido e florescido, assim como imaginava que enfrentaria lá seus piores terrores. Guardem essa imagem da Corte Noturna por um momento, pois ela será importante agora.

 

A Corte Noturna era dividida em extremos polos; A selvageria dos guerreiros de Illyria, a devassidão da cidade escavada e o brilho super protegido e imaculado de Velaris. A Noturna nunca foi algo homogêneo, possuindo diversas camadas e facetas, tal qual seu grão-senhor. Lidar com os guerreiros illyrianos nunca parece algo fácil, enquanto lidar com a cidade escavada é uma necessidade, já que ela mantém a imagem de crueldade e escuridão que a Corte utiliza para se proteger, e Velaris sempre era o lar. Aquele local para onde os protagonistas retornavam para a felicidade merecida após sangrarem em batalha.

 

Se foi intencional já não posso lhes garantir nessa parte, mas isso é uma sessão de teorias, e aqui lanço a minha sobre essa parte da história: a própria Corte Noturna foi inspirada no mundo interior. Como? Pois, explico.

 

O mundo interior tem diversas sessões, camadas e polos. Aqui trarei três, aquelas para onde as almas poderiam ser enviadas.

 

Os campos de Asfódeles, o Tartáro e o os campos de Elísios.

 

Asfódeles era o local para onde as almas que não foram nem boas e nem más iriam, dita como o lar daqueles que são irrelevantes e em cima do muro. O Tartáro é o lar daqueles que merecem as punições mais criativas e lá também é o abismo para onde foram lançados os titãs após os deuses do Olimpo começarem seu reinado e, enfim, temos o Elísio: que era o local para onde eram mandadas as almas daqueles que foram merecedores do dito paraíso.

 

Alguns mitos dizem que o Elísio era o lar daqueles que pereceram por morte honrosa.

 

Correlacionando o reino de Hades com o reino de Rhysand, teríamos a Illyria como Asfódeles – sim, também me dói isso. Eu amo os illyrianos -, já que sabemos que tem muito de ruim na cultura illyriana, mas também há bem lá. Como a Illyria é classificada pelos protagonistas como um meio termo, então cabe-lhe o papel de Asfódeles.

 

Temos o Tártaro, o lado sombrio e de onde surge toda a imagem de tortura e escuridão do Hades; Lá as piores crueldades são cometidas a aqueles que foram julgados merecedores dela, aonde aqueles que estiveram do lado errado da história são lançados e aquela parte que todos temem. O lar da escuridão, gritos e sofrimento perpétuo; O tártaro que melhor se encaixa a Cidade Escavada.

 

A parte mais profunda, geograficamente, do mundo inferior para a parte mais profunda da Noturna. Ambas as partes são aquelas que dão a imagem pelo qual o mundo conhece o reino inteiro. Lembrando que a Deméter jamais compreendeu o fato da filha ter se acostumado ao mundo inferior e se tornado a Rainha que Hades precisava justamente pela reputação do Reino, tal qual Feyre a princípio tinha muito medo de ir até a Noturna, pois a única parte que conhecia eram os boatos da cidade escavada.

 

Ela também se tornou a Grã-Senhora que ninguém esperava que fosse, mas a correlação da evolução da Feyre de noiva-prêmio para Grã-senhora com a de Perséfone como a filha casta e infantilizada para a Rainha do mundo inferior será um pouco adiante. Segurem a informação, porém, pois ela será lembrada.

 

Retornando, chegamos ao ponto… Velaris.

 

Os campos de Elísio, aquele aonde muitos esquecem da existência quando falam do Hades, e a recompensa aos afortunados e dignos. O paraíso. Obviamente, Velaris, a cidade da luz estelar. Aquele local protegido da corte Noturna que serviu de prova quanto ao caráter do próprio Rhysand.

 

A humanidade de Rhys. De Hades.

 

Todos sabemos o que ocorre com Feyre após chegar a corte Noturna, perceber que não era nada do que tinha sido condicionada a pensar e começar seu processo de cura e mudança. Feyre passa por uma metamorfose não apenas de humana para feérica, mas de uma pessoa que desejava proteção e comodidade para uma que lutava com as próprias mãos por quem não pode e que estende a sua proteção ao povo.

 

Ela saiu de noiva-prêmio para a Grã-Senhora de todo um território. Trocando as flores pelas espadas e coroas, Feyre nos lembra Perséfone.

 

A deusa da primavera nasceu e cresceu sob o jugo de Deméter, sendo moldada para ser a beleza delicada do Olimpo, a rosa a ser colhida por aquele que sua mãe julgasse digno ou que jamais seria colhida por ninguém. Há duas interpretações possíveis para o que ocorreu em seguida com ela: A de que o sequestro e sedução por Hades a tornou deprimida e sombria ou que a união com o deus sombrio lhe deu espaço longe do jugo da mãe, lhe deu espaço para se desenvolver como a Rainha que nasceu para ser.

 

Perséfone, em diversos momentos da mitologia grega, prova ser a humanidade de Hades. Ela intercede em favor dos heróis e, em diversos momentos, lhes dá chances de sobrevivência que o Deus dos mortos não teria dito. Junto dele, ela também dá a luz a deusa Macária, deusa da boa morte, e de Erínias, personificação da vingança.

 

Não digo que não havia humanidade em Rhysand antes de Feyre, assim como já havia força nela antes dele, mas o mundo só pode ver essa humanidade após a parceira convencê-lo a externaliza-la. Despir-se das máscaras e ardis, então todos passaram a ver a verdadeira face da Noturna, tal qual a deusa da primavera trouxe a luz de que o Hades não era apenas escuridão e sofrimento.

 

Feyre, tal qual Perséfone, passou por idas e vindas entre a Primavera e a Escuridão. Tanto durante seu acordo com Rhysand quanto posteriormente. Em dado momento, Rhysand leva a senhora da Primaveril para sua corte em viés de um acordo, mas posteriormente Tamlin leva a Grã-Senhora da Noturna para a sua corte.

 

Quando Hades levou Perséfone para o mundo inferior, ela era a Primavera, mas quando Deméter a levou de volta para a superfície ela era a Rainha do mundo inferior.

 

 

Estar na Noturna mudou Feyre de uma forma essencial, dando a ela a chance de desenvolver toda a força que sempre habitou dentro dela. Muitos olharam para ambas as personagens, Perséfone e Feyre, e as viram contaminadas pela escuridão, mas essa escuridão serviu de libertação a ambas.

 

“— Quando se passa muito tempo na escuridão, Lucien, se percebe que a escuridão passa a olhar de volta”

 

Num último ponto, gostaria de trazer a vocês uma curiosidade sobre o culto a Perséfone e Deméter pós metamorfose da deusa. Há um culto conhecido como “os mistérios de Elêusis”, o culto que exaltava ambas as deusas sobre o momento a qual Perséfone sai do mundo inferior, o qual é realmente misterioso. Os segredos eram passados apenas a novos iniciados, mas há quem diga que esses cultos ainda resistem em algumas religiões atuais. A base é celebrar a fertilidade do solo e como o mundo floresce quando Perséfone retorna com Deméter ao mundo. A união da fertilidade da deusa da agricultura com a prosperidade florida da deusa da primavera.

 

Só eu me lembrei do Calanmai?

 

Encerro essa publicação declarando que temos conhecimento sobre o quanto o mito de Hades e Perséfone pode ser problemático sob a luz correta, mas essa publicação foi criada no intuito de divertir e teorizar sobre o universo de ACOTAR e sobre o casal favorito dos leitores.

 

Dito isso, espero que tenham gostado! Há mais algum ponto que acreditem que haja similariedades? Coloquem nos comentários e teorizaremos juntos.

 

“To stars who listen and dreams that are answered”

 

Texto e Teoria por: Roberta – Equipe Acotar Brasil[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]

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1 COMENTÁRIO

  1. Oi. Meu nome é Sônia. Adorei conhecer vocês, ler sobre este mundo tão fantástico criado pela Sarah, me animou. Estava triste em saber que não tinha mais livros de lá. Achei que terminava com a corte de Névoa, que bom que não. Adorei a conversa do Cassian com a Nestha. Vou segui-los no insta.

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