– Sem spoilers, mas terá sexo.
Se você conhece alguém que é fã da autora Sarah J. Maas, é melhor se certificar de que não planejará falar com ele no dia 2 de maio. Nessa fatídica terça-feira, Corte de Asas e Ruína (A Court of Wings and Ruin) chegarão às prateleiras, tornando assim todos os seus fãs incapacitados por pelo menos 24 horas, e provavelmente mais – a quantidade de sentimentos será infinita. ACOWAR é o terceiro livro da trilogia de Corte de Espinhos e Rosas, que conta a história de Feyre, um ser humano que se tornou feérica aprendendo a lidar com novos poderes, novas amizades e um novo relacionamento, ao mesmo tempo tentando salvar o mundo de um rei perverso, determinado a destruir tudo o que é querido por ela. É muito com o que lidar, especialmente agora que ela está – alerta de SPOILER, mas se você está lendo isso, você provavelmente já sabe – na Corte Primaveril espionando seu ex-namorado ruim.
Maas está ansiosa para finalmente poder falar sobre o que acontece em ACOWAR, mas mesmo depois de terça-feira, ela ainda terá alguns segredos para guardar. Atualmente, ela está trabalhando em mais três livros no mesmo universo, mas ela não sabe dizer quando eles saírão ou quem vai narrar. “Alguns dos livros podem ter lugar depois da série, alguns deles podem acontecer antes”, diz ela, “mas eles terão diferentes pontos de vista”. Aqui, Maas fala sobre o modo como ela esboça seus livros, quais heroínas ela amava enquanto crescia e por que as cenas de sexo nesta série são tão importantes.
P: Esta série é tão cheia de pequenos detalhes que um leitor pode deixar escapar sobre algo que depois acaba sendo super importante. Como você esboça isso enquanto está escrevendo?
R: Eu gosto de saber como eu quero que cada livro termine e como eu quero que a série acabe em geral, e alguns detalhes do meio, como as cenas que me empolgam, seja uma cena de ação ou uma cena realmente sexy, picante. Quando estou preenchendo essas lacunas entre as cenas que planejei com antecedência, geralmente acabo aprendendo muitos detalhes sobre os personagens. Às vezes, apenas adicionando um pequeno detalhe pode acabar abrindo um bolso inteiro no mundo. É um processo longo, mas adicionar esses detalhes é realmente uma das minhas partes favoritas.
Quando se trata das grandes revelações e de todas as coisas que acontecem no terceiro livro, muitas delas planejei com muita antecedência para que eu pudesse plantar as sementes bem cedo no livro um ou dois. Eu cresci com Harry Potter e me sinto como J.K. Rowling, a rainha dos pequenos detalhes que estão na página do livro um e, em seguida, no sexto livro, eles voltam naquilo de uma maneira enorme. Isso definitivamente deixou sua marca em mim enquanto eu estava crescendo como leitora e escritora.
Eu só fico pensando sobre o quanto há no primeiro livro sobre Feyre amando pintar e você fica tipo, “OK, isso é legal, tanto faz”, e em seguida Rhys estava colocando as estrelas da noite nos pensamentos dela e você fica tipo “OH MEU DEUS!” Isso me fez lembrar muito de Harry Potter.
Uma das coisas mais difíceis foi quando o primeiro livro saiu, eu já tinha escrito o livro dois, então eu sabia exatamente o que iria acontecer com Feyre e Rhys. Então ter que guardar todos esses pequenos segredos e detalhes para mim mesma durante os eventos, quando os leitores apareceriam e ficavam tipo “Eu amo Tamlin!” E eu respondia tipo “Beeeem”. Eu apenas sorria para eles e pensava, “Sim, claro, eu também, eu acho”.
Quando Corte de Névoa e Fúria finalmente saiu, um ano depois, foi um grande alívio finalmente falar (ser capaz) sobre meu amor por Rhys. O terceiro livro tem um monte dessas coisas, então será emocionante ter esses eventos e os leitores talvez consigam me assustar um pouco, porque tem sido só eu, meu editor e alguns parceiros críticos que conheciam todos estes segredos.
P: Uma coisa que eu amo em Feyre é que ela não é virgem quando os eventos do primeiro livro começam, o que é um tanto incomum para jovens heroínas, mesmo num romance que é definitivamente mais para adultos. Por que você incluiu esse detalhe?
R: Com o sexo em meus livros, eu tento fazer uma coisa positiva. Está tudo bem para as mulheres serem virgens, não há problema em elas terem tantos parceiros sexuais quanto quiserem. Com Feyre, parecia que fazia parte de sua personagem. Eu queria que ela tivesse uma história sexual que não fosse algo para se envergonhar, que fosse algo em que ela estava encarregada de fazer; eu queria que ela estivesse no comando de seu corpo, suas paixões e desejos. É importante para as mulheres perceberem que é o seu corpo, são as suas escolhas e, se alguém tentar envergonhá-la com essas coisas, então isso é algo deles.
Em outro nível, também me permitiu evitar a cena de sexo inicial perdendo-a-virgindade com Tamlin, que eu realmente não queria escrever. Eu queria ir direto para as coisas divertidas.
Isso me faz soar como uma pervertida. Eu queria que ela ficasse relativamente em pé de igualdade com ele. A dinâmica de poder entre ela e Tamlin é tão desigual que às vezes eu queria que ela pelo menos tivesse algum controle no quarto e soubesse o que esperar.
Conseguir escrever essas cenas de sexo foi definitivamente um dos elementos divertidos [de escrever esses livros]. Quando eu escrevi a primeira cena em ACOTAR, eu definitivamente tive que tomar um copo de vinho, porque eu estava tipo: “Oh meu Deus, minha família vai estar lendo este livro e nunca mais poderemos ter o jantar de Ação de Graças novamente ” Felizmente minha família tem sido muito legal sobre isso. Nós simplesmente não discutimos isso, o que está bem para mim.
O que é engraçado é que minha família é bem legal com esse tipo de coisa, mas ainda é apenas uma daquelas coisas em que eu fico “Ehhh”. É estranho para mim que minha família leia meus livros em geral, mas acrescentar cenas relativamente quentes é apenas um jogo totalmente diferente. Mas além disso, eu amo que em meus eventos eu tenho mulheres de todas as idades chegando até mim, feliz por ter uma heroína que não é cheia de pudor. Essa culpabilização moral em cima da mulher por conta do sexo (NT: aqui, Sarah usa a expressão Slut-shaming, que na tradução, seria algo como uma ofensa deliberada contra as mulheres mais abertas com o assunto, e que se realizam sexualente sem constrangimento, ou, no sentido literal da expressão: “humilhar alguém por ser vadia”) realmente faz meu sangue ferver e é importante que eu tenha livros positivos para o sexo. Aprendi muito sobre sexo e relacionamentos a partir dos livros que li quando estava crescendo.
Eu nunca teria sido a garota da educação sexual que levantava a mão, tipo: “O que essa parte faz?” Eu preferiria me jogar escada abaixo do que fazer uma pergunta em educação sexual. Mas então eu li toneladas de livros de fantasia romântica quando eu estava crescendo, e aprendi muito sobre sexo e bons relacionamentos com esses livros. Espero que talvez seja um ciclo completo, e talvez alguém esteja lendo meus livros agora e esteja fazendo a mesma coisa que [esses outros livros] fizeram por mim.
Nos meus livros de Trono de Vidro (Throne of Glass), tive esse momento de “virgindade”, mas nesse eu queria passar por cima, especialmente no segundo livro. Corte de Névoa e Fúria tem uma maratona sexual de três dias, que foi realmente muito divertida de se escrever.
Eu não jogo o sexo só para tê-lo ali, mesmo que eu seja uma grande fã de romance erótico. Eu tentei fazer o sexo amarrado ao enredo e aos personagens, e fazer com que pareça que é um resultado real do que está acontecendo no mundo e na vida desses personagens. [A maratona] foi o ponto culminante não apenas do relacionamento romântico de Rhys e Feyre, mas também de muitos pontos da trama que surgiram, e foi um grande momento de cura para os dois. Foi uma coisa muito emocional para mim escrever. Há definitivamente mais disso no livro três!
P: Quando você dá um olhada online para as fanarts (arte de fãs) e blogs da ACOTAR, os fãs obviamente respondem ao quão quente Rhys é, mas eles são igualmente atraídos pelo fato de que ele está tão empenhado em respeitar a Feyre, que ele a trata como uma igual. É algo que você acha que as mulheres jovens estão mais sintonizadas agora?
R: Definitivamente. Eu acho que as coisas estão mudando em termos do que os leitores ou fandoms esperam dos interesses amorosos, especialmente os masculinos. Rhys tem sua própria história que lhe permite ter alguma perspectiva de como Feyre pode estar se sentindo. Não é como se eu planejasse ativamente que eles fossem feministas, mas ao pensar neles, em quem eles eram e esses são os personagens que me interessam.
Eu não tenho interesse em escrever sobre um super-controlador-macho-alfa, a menos que haja uma reviravolta interessante. Às vezes, penso nos livros, filmes ou programas de TV em que eu assistia quando estava crescendo, e era um tipo diferente de interesse amoroso. Estou mais interessada em explorar relacionamentos entre iguais. Caras que tratam as mulheres como seres humanos, acho isso muito atraente.
Ele também apresenta alguns [contrastes] interessantes com o personagem de Tamlin, que é aquele tipo super-controlador, tipo macho-alfa. Eu não quero entrar em spoilers, mas acho que ainda existem algumas coisas interessantes para explorar com Tamlin e como esse personagem se encaixa neste mundo. Mesmo no mundo de ACOTAR, o seu comportamento não é realmente aceitável. Eu tive que separar esse tipo de macho alfa, e ver o que os fazem funcionar e de onde isso vem e explorar esse lado realmente escuro e controlador de alguém.
Estou tão feliz que tudo está mudando na cultura pop agora, onde queremos interesses amorosos, masculinos e femininos, que sejam mais parceiros e iguais nas coisas. Eu acho isso muito sexy.
Foi assim que quis escrever a série. Eu queria que os leitores experimentassem o primeiro livro com Tamlin e seu controle, o comportamento de macho alfa e dissessem: “Oh, é uma espécie de regra”, e se apaixonar por ele do jeito que Feyre fez – não cegamente, mas aceitando que é assim que as coisas são.
Então, no livro dois, quando Rhys aparece e Feyre tem sua própria jornada, eles podem olhar para o primeiro livro e ver todos aqueles momentos em que as coisas que foram ignoradas por Feyre não estavam exatamente corretas.
P: Quem foram algumas de suas heroínas fictícias favoritas enquanto você crescia?
R: Buffy de Buffy the Vampire Slayer (Buffy: a Caça vampiros) foi provavelmente a minha favorita e uma das heroínas que mais tiveram a vida transformada. Eu me sentia muito como a Buffy no ensino médio. Eu ía bem nas aulas, não era a melhor aluna da minha turma, e não era a pior. Buffy não poderia ser colocada em qualquer tipo de estilo, da maneira que a sociedade gosta de nos fazer encaixar nesses estilos.
Ela não era apenas uma garota feminina, ela não era uma moleca. Ela era a caçadora que estava destinada a salvar o mundo e lutar contra essas criaturas horríveis, mas ela também era uma garota que amava roupas e o que a sociedade considerava coisas muito femininas. Eu me sentia assim crescendo, como se houvesse todos esses pedaços de mim. Buffy começou a ir ao ar em um momento crucial meu, para descobrir minha identidade.
Quando eu tive a ideia para a minha série de Trono de Vidro (Throne of Glass), Celaena estava muito na veia de Buffy, onde ela é uma jovem assassina que adora roupas e coisas dançantes e “femininas”, mas ela também adorava detonar com as pessoas e matá-las. Eu não tinha interesse em escrever heroínas que precisavam ser encaixadas nessas definições muito restritas.
Buffy também me mostrou que havia muitos tipos diferentes de força feminina também. Buffy definitivamente tem esse tipo de força, mas também havia essa força reservada que a série também mostrava. Como Willow que era uma desajustada dolorosamente tímida, e ainda assim ela era como a pessoa mais inteligente em toda a cidade, e teve sua própria jornada incrível e se torna uma das pessoas mais poderosas em Sunnydale.
Você está totalmente certa. Você pode usar calças pela manhã ou à tarde e depois vestir um vestido extravagante, fazer o cabelo e não mudar quem você é. Você pode ter tantas coisas diferentes e nunca ter que se desculpar por isso. Com as personagens femininas da série ACOTAR, existem vários tipos diferentes [de mulheres] e algumas mais estão chegando no terceiro livro.
Buffy me fez perceber que não havia uma personagem feminina que fosse a estrela de tudo. Poderia haver tantas diferentes que tivessem suas próprias jornadas e fossem tão importantes quanto a personagem principal. Eu também adoro escrever sobre a dinâmica entre essas personagens femininas e os laços que elas formam juntas, porque elas são tão cruciais quanto os laços românticos. Minhas amizades com outras mulheres foram tão marcantes para mim quanto meus relacionamentos amorosos.
FONTE: https://www.cosmopolitan.com/entertainment/books/a9578146/sarah-j-maas-interview/
Tradução e Adaptação: Tod – Equipe ACOTAR Brasil